Agosto Laranja: Falta de informação dificulta diagnóstico e tratamento de Esclerose Múltipla
Herval Ribeiro Soares Neto
Agosto é um mês marcado pela cor laranja, simbolismo para conscientizar a sociedade sobre a Esclerose Múltipla (EM), doença que afeta cerca de 35 mil pessoas no Brasil, na maioria mulheres jovens entre 20 e 40 anos, embora homens também apresentem a doença. É comum os pacientes enfrentarem um cenário desafiador antes e depois do diagnóstico, não apenas pelas características da patologia, mas por terem que lidar adicionalmente com a falta de informação e o preconceito.
A esclerose múltipla é uma doença neurológica crônica, sem causa determinada e sem cura, em que as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando a perda de mielina, uma substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios de forma rápida. Por isso, quanto antes diagnosticada, mais chances de vida sem limitações importantes têm o paciente.
Apesar de não ter cura, a esclerose múltipla possui tratamento, por meio do controle dos sintomas e da diminuição da progressão da doença. No entanto, mesmo com os significativos avanços da ciência nesta área, o diagnóstico precoce é um dos grandes entraves para que portadores consigam iniciar o tratamento o quanto antes. A demora é causada principalmente pela falta de informação sobre a esclerose múltipla e seus sintomas, que podem ser confundidos com os de diversas outras doenças –mesmo pelos profissionais de saúde que fazem os primeiros atendimentos.
Dentre os sintomas mais comuns estão fadiga imprevisível ou desproporcional à atividade realizada; alterações fonoaudiológicas, como fala lenta, palavras arrastadas, voz trêmula e dificuldade para engolir; visão dupla ou embaçada; problemas de equilíbrio e coordenação; sensação de queimação ou formigamento em alguma parte do corpo e de aparecimento espontâneo; perda de memória e raciocínio; transtornos emocionais; e problemas vesicais e sexuais, como perda de libido e sensibilidade.
A EM pode se manifestar de duas principais formas, a recorrente e a primária progressiva. A forma recorrente é a predominante, ocorrendo em torno de 85% dos casos. Caracteriza-se por crises ou surtos, seguidos ou não por melhora total ou parcial dos sintomas, e que pode gerar incapacidade permanente. Em 50% dos pacientes com a forma recorrente, ocorre após 10 anos uma evolução do quadro para a forma de esclerose múltipla secundária progressiva.
Já a forma primária progressiva progride independentemente de surtos e é considerada a mais agressiva. Até poucos anos atrás não havia tratamentos medicamentosos comprovadamente efetivos e aprovados para essa forma da doença. Hoje, felizmente, já existem terapias para os dois tipos de EM.
A Esclerose Múltipla é uma doença progressiva desde o início, independentemente de como se manifesta e, com o tratamento adequado e antecipado, os pacientes podem apresentar uma diminuição na incapacidade e na progressão. O impacto na qualidade de vida é transformador. É com este objetivo que novas terapias vêm sendo estudadas como oportunidade para essas pessoas escreverem novas histórias na esclerose múltipla, com mais conquistas e menos sequelas.
O caminho para a aprovação de medicamentos para doenças raras, como a EM, é longo no Brasil. Portanto, a mobilização e a participação da sociedade são imprescindíveis para fomentar o tema junto aos atores envolvidos e fazer com que as novas tecnologias para o tratamento da doença cheguem, de fato, a quem precisa delas.
Herval Ribeiro Soares Neto é médico neurologista e especialista em Esclerose Múltipla.