Crise e soluções no Brasil: as experiências dos municípios
Edvaldo Nogueira, Waneska Barboza, Helyn Thami, Larissa Leme e Caroline Cavallari
Testar em larga escala. Essa foi a recomendação de organismos internacionais, tal qual a Organização Mundial da Saúde, e de diversos setores da academia para que se pudesse achatar a curva de contágio pelo novo coronavírus, juntamente com as políticas de isolamento social.
Nesse contexto, muitas comparações internacionais surgiram com relação à testagem, sobretudo após as experiências exitosas de países como a Coreia do Sul e a própria China. Contudo, a testagem maciça da população encontrou barreiras e desafios na realidade (ou realidades) brasileira, sobretudo em função da escassez de insumos e outros gargalos logísticos relacionados à coordenação interfederativa.
Tendo em vista as boas experiências ao redor do mundo, muitos municípios desenvolveram o interesse em realizar testagem em massa em suas populações para embasar as políticas de enfrentamento e superação da crise. A essa altura, a grande heterogeneidade de contextos entre os 5.570 municípios brasileiros impôs seu peso. Surgiu, então, a questão: como fazer? Existiria uma metodologia que servisse para todos?
Um dos municípios que se deparou com essa dúvida foi a capital sergipana, Aracaju, que tem atualmente cerca de 570 mil habitantes. A ideia inicial era realizar um inquérito amostral – semelhante ao que estava acontecendo em outros municípios –, aplicando testes rápidos, com o objetivo de entender o comportamento da doença no território e identificar a fração da população que já tivera contato com o vírus, ainda que sem sintomas. Para isso, os gestores buscaram a plataforma CoronaCidades, que já apoiava o município em outras frentes, para suporte especializado sobre a composição da amostra.
O epidemiologista que integra o conselho técnico da plataforma, Dr. Guilherme Werneck, participou de diversas reuniões com os times de gestão e, através do entendimento mais apurado do contexto e da curva de contágio na cidade, pactuou-se a realização da testagem em etapas. Em um primeiro momento, foram selecionados dois bairros com populações semelhantes, um com casos confirmados e o outro sem, para realizar a testagem. Foram feitos 101 testes, todos negativos. Isso mostrou que ainda não era o momento de realizar um inquérito amostral mais amplo, uma vez que, naquele momento, ele implicaria em grande uso de insumos para, possivelmente, não oferecer respostas sólidas.
As equipes técnicas, então, acompanharam a curva de contágio e conseguiram basear em dados a escolha do melhor momento para a realização da testagem em amostras populacionais; amostras essas que foram definidas também com a ajuda do epidemiologista. Foi possível, por meio da parceria e empenho dos atores envolvidos, economizar (os escassos) recursos que são os testes, e extrair a melhor informação possível do seu uso, a fim de dar um embasamento sólido para as políticas públicas de saúde.
Não menos importante, o município também foi pioneiro na implementação de outras iniciativas que complementam a testagem no esforço de “achatar a curva”, como, por exemplo, a plataforma de monitoramento MonitorAju, que permite aos cidadãos tirar dúvidas sobre a doença, com suporte dado por uma equipe de profissionais de saúde. Além disso, é possível preencher um formulário com os sintomas e receber orientação por e-mail ou telefone. Uma vez que sejam detectados casos suspeitos, com base nos sintomas, os cidadãos também passam a ser monitorados de modo longitudinal, por 14 dias, seguindo as diretrizes nacionais.
A experiência do município de Aracaju mostra o quão fundamental é a combinação de expertise técnica e engajamento de gestores no enfrentamento à crise. Foi possível economizar recursos e racionalizar o destino dos mesmos, obtendo a melhor informação possível para informar o desenho das políticas públicas. Além disso, a experiência ilumina também a necessidade de pensar o contexto específico de cada cidade ou estado na hora de traçar as estratégias, ajustando ofertas técnico-metodológicas à realidade e necessidade locais.
A plataforma CoronaCidades oferece apoio gratuito a municípios e estados brasileiros no enfrentamento à crise. Conheça o material sobre testagem disponibilizado pela plataforma neste link, ou visite coronacidades.org para mais informações.
Edvaldo Nogueira é Prefeito de Aracaju.
Waneska de Souza Barboza é Secretária Municipal de Saúde de Aracaju.
Helyn Thami é especialista em Gestão de Saúde e pesquisadora do IEPS.
Larissa Leme é gestora local da Impulso.
Caroline Cavallari é coordenadora de Conteúdo e Atendimento da plataforma CoronaCidades.