O custo e o modelo da saúde que desejamos
Rodrigo Lopes
As empresas da área da saúde vêm trabalhando nos últimos anos em mudanças para reduzir e dar maior previsibilidade aos seus custos. O modelo fee for service, utilizado atualmente, foi importante para incorporar e oferecer medicina de qualidade para um grande número de cidadãos. Mas há praticamente um consenso entre fontes pagadoras, prestadores de serviço e usuários de que uma revisão é essencial, para garantir a sustentabilidade e o crescimento de todo o setor.
A tecnologia é considerada um dos pilares essenciais para resolver esse desequilíbrio. Mas, em muitos casos, tem sido aplicada para gerar demandas que nem sempre apresentam relação custo-benefício equilibrada. Esse é um dos pontos que tem levado a um custo cada vez mais elevado, sem o ganho real e efetivo esperado pelo paciente.
Por outro lado, vivemos um momento único em que a tecnologia, quando bem aplicada, contribui para o desenvolvimento da medicina. Os avanços são relevantes, com melhores desfechos, períodos menores de internação ou predições que contribuem para agilizar diagnósticos e tratamentos, além de reduzir custos, por meio de inteligência cognitiva e gestão de dados. Esta é uma realidade que veio para ficar e tende a ampliar o seu uso de modo promissor, em benefício de instituições, profissionais e pacientes.
Cabe aos players do setor, portanto, decidir onde investir e qual tipo de desenvolvimento e tecnologia serão utilizados.
O mesmo acontece com o modelo de assistência, hoje centrado no hospital e na doença. E aqui temos visto que a inovação pode ir além da tecnologia, quando esses mesmos players buscam não apenas novos modelos de remuneração, mas iniciativas de promoção e prevenção da saúde que melhoram a qualidade de vida dos pacientes, a efetividade do cuidado e, consequentemente, a redução de custos.
Esse movimento também acontece no caso das empresas. É crescente o número de programas corporativos baseados no atendimento primário de funcionários e seus familiares. O acompanhamento integral do paciente, com equipe multidisciplinar, dentro dos moldes do médico de família, tem proporcionado melhor gestão do cuidado e redução da sinistralidade.
O paciente tem sido trazido à posição de protagonista. Isso vale tanto para a promoção quanto para a prevenção, com o objetivo de detectar antecipadamente doenças crônicas, como cardiopatias, diabetes e outras, além de quadros oncológicos, cujos tratamentos tornam-se mais eficazes quando identificados precocemente.
Esses conceitos impactam na expectativa do aumento de vida que observamos nas últimas décadas – e para o qual o modelo de saúde vigente deu grande contribuição. Mas, no momento em que o País se debruça sobre reformas importantes, como a da Previdência, para garantir o pagamento de benefícios às futuras gerações, precisamos também pensar no desafio que representa o atendimento em saúde para uma população que cresce e envelhece a cada ano.
O modo como viveremos e os custos que teremos com a saúde no futuro passam, necessariamente, pelo modelo de assistência que adotamos e pelo cuidado que recebemos ao longo de nossa vida. O protagonismo dessa mudança deve vir dos players e profissionais da área e também das empresas, que têm um papel relevante a desempenhar quando falamos da qualidade de vida e da saúde de cada funcionário e cidadão.
Rodrigo Lopes é CEO do Grupo Leforte